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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Loucos por sexo



 Por Roberta de Medeiros

Eles pensam em sexo o tempo todo. Têm relações com vários parceiros ou estão sempre lendo revistas pornográficas. Podem se masturbar com muita freqüência ou possuir fantasias sexuais nada comuns. Esses indivíduos são viciados em sexo, patologia semelhante à dependência por jogo ou drogas, mas ainda pouco estudada pela psiquiatria moderna.

O transtorno pode ser mais sério do que se imagina. Assim como nos EUA, especialistas acreditam que no Brasil os compulsivos sexuais sejam até 6% da população, o equivalente a cerca de 10 milhões de pessoas em um universo de 170 milhões. Para se ter uma idéia, esse total corresponde a toda população do Estado do Rio Grande do Sul.

Apesar da gravidade, não é tão fácil reconhecer um viciado em sexo. Esse tipo de compulsão passa despercebido por familiares, amigos e colegas, já
que não é a quantidade de relações sexuais que necessariamente irá definir a dependência, mas o estrago que o vício pode causar na vida da pessoa e o nível de controle que ela tem sobre seus impulsos.

Uma pesquisa feita pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) traçou um perfil do compulsivo sexual no Brasil. A pesquisa revelou que a idade média dos pacientes é de 34 anos. A escolaridade do grupo é muito alta: 37% têm terceiro grau completo, 30% têm segundo grau completo e 15% têm terceiro grau incompleto.

Em 54% dos pacientes analisados pela pesquisa foram apontados sintomas de transtornos psiquiátricos, como depressão ou ansiedade. Cerca de 58% apresentaram sintomas de parafilias como: exibicionismo (20%), voyeurismo (16%), masoquismo (8%) e pedofilia (4%).

Outros dados mostram que 41% dos pacientes analisados têm um parceiro fixo e que a média de parceiros sexuais de cada paciente chega ao patamar olímpico de 161 pessoas. Os prejuízos são de grandes dimensões. Os pacientes apontaram como principal área de prejuízo a profissional (60%), a pessoal (45%) e a familiar (16%).

O estudo ainda apontou que, em média, cada paciente tem um parceiro por semana (que pode ser o mesmo), pensa em sexo cinco vezes por dia, tem 2,4 relações sexuais por semana, masturba-se 9,3 vezes por semana e tem uma média de 11,7 orgasmos por semana.
A variação dos dados é grande. Da mesma forma que há pessoas que ficam felizes fazendo sexo uma vez por mês, outras querem fazê-lo dez ou mais vezes por dia. No dia da aplicação do questionário, eles estavam, em média, de 4 dias sem sexo e 2,3 dias sem se masturbar.

Segundo o psiquiatra e psicoterapeuta Aderbal Vieira Jr, responsável pelo ambulatório de tratamento do sexo patológico da Unifesp, os homens procuram mais ajuda do que as mulheres. Cerca de 90% dos pacientes são homens. “Não sabemos se as mulheres não procuram ajuda por questões morais”, observa.


Reposta química

Algumas correntes da psiquiatria acreditam que a resposta para dependência estaria na produção de uma substância natural chamada dopamina, que rege a sensação de prazer. Pessoas com menor produção da droga, estariam mais predispostas ao vício por tentar compensar a falta da substância a partir de estímulos externos.

Há ainda quem acredite que a compulsão seja apenas uma disfunção de comportamento. De qualquer forma, a orientação dos especialistas é que a pessoa busque o tratamento se não estiver satisfeita com o próprio comportamento sexual, mesmo que não apresente vício por sexo. O tratamento é medicamentoso e associado à psicoterapia.


AA

Graças a seu sucesso na recuperação de muitos alcoólatras, o AA passou a servir como modelo para o combate a outros tipos de dependência, inclusive ao sexo. A terapia dos grupos anônimos consiste em doze passos que o dependente deve seguir em busca da recuperação.

Nas reuniões dos Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, cada participante fala por até sete minutos e ouve o relato de quem conseguiu superar a compulsão. Sobre uma mesa, uma placa adverte: Quem você vê aqui, o que você ouve aqui, deixe que fique aqui.


Serviço:

PROAD (Programa de Orientação e Atendimento a dependentes): consulta e orientação pelo telefone (11) 5579 1543.

 Publicado na revista Fato

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