Por Roberta de Medeiros
Basta um colega iniciar sua narrativa de intrigas sobre namoro, trabalho e problemas alheios que logo atrai a atenção de uma platéia sempre interessada. "A fofoca nasce, brota, cresce e voa contra tudo o que nasce, brota, cresce e voa", escreve o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa em seu livro “Tratado Geral sobre a Fofoca”. Nele, descreve como somos vítimas e ao mesmo tempo agentes da fofoca.
Segundo Gaiarsa, a fofoca um dos fatores que mais influencia e modela as instituições sociais. Seria uma forma de as pessoas buscarem posição social perante as outras, ou seja, está diretamente ligada à insatisfação com a própria vida. “É a forma mais eficaz de as pessoas se vigiarem para manter o status da perseguição de todos contra todos", diz o psiquiatra.
A fofoca é pré-histórica. Há quem afirme que ela tenha sido de grande utilidade para nossos ancestrais ao longo da evolução: quem comia os alimentos corretos, escolhia para parceiro sexual os melhores reprodutores e estavam informados sobre o que acontecia ao seu redor, levavam vantagem sobre aqueles que não davam importância a essas informações.
O interesse pela vida alheia recai sobre os famosos. Uma pesquisa feita pela Ipsos-Marplan, empresa especializada em estudos de marketing e consumo, mostra que pelo menos 38% da população no Brasil tem interesse por gente famosa. Segundo a pesquisa, 12% têm o hábito de ler revistas de fofocas. São mulheres (74%) das classes AB (54%) e pessoas de 20 a 34 anos (39%) que mais buscam esse tipo de entretenimento.
-Terapia
Na Itália, um manual da fofoca escrito pelas psicólogas Elena Mora e Luisa Ciuni deixa claro que se ocupar com a vida alheia pode ser uma excelente terapia. "A fofoca é um antídoto contra a monotonia e a solidão", afirmam as autoras. "É um importante instrumento de integração social. Consolida a participação num determinado grupo, alivia as tensões, o estresse acumulado e permite descarregar a agressividade. É um jogo entre realidade e ficção, que ajuda a conhecer a si mesmo”, dizem.
O manual traz um estudo feito na Itália segundo o qual as mulheres gastam em média cinco horas por dia fofocando. No livro, as autoras dão dicas sobre como fofocar melhor e apontam os melhores lugares para rir da vida alheia. O salão do cabeleireiro, a academia de ginástica, festas de aniversários, casamentos e corredores de hospitais são alguns dos ambientes onde as mulheres podem fofocar.
A fofoca é uma forma de agressão coletiva, só que disfarçada. Quando uma pessoa comenta maliciosamente a vida de alguém tende a excluir e reprovar um certo grupo. “E nisso as pessoas que na frente fazem salamaleque, por traz todo mundo sabe, cortam a “casaca”, o que tem conseqüências até econômicas para quem foi fofocado. Isso é outra derivação da agressão, a gente faz de conta que é bonzinho e machuca quanto pode por baixo, indiretamente”, diz Gaiarsa.
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